quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

PEDALA ROBINHO!!

Parece que já está fazendo parte da crônica esportiva a imprensa noticiar não mais o talento ou os dotes futebolísticos de nossos atletas, mas sim seus encândalos sexuais. Vide a triste exposição ao ridículo a que foi submetido o agora craque do timão Ronaldo Nazário (ex-fenômeno), no célebre imbróglio com travestis no Rio de Janeiro, ano passado, que rendeu uns bons trocados no mercado de filmes pornôs para a transexual Andréia. Creio que quem realmente lucrou no período foram os programas humorísticos, pois nosso craque acima do peso proporcionou assunto para piadas e tiradas cômicas durante uma porção de meses.

Ainda durante o ano passado, o outro Ronaldo (o gáucho), não bastou demonstrar uma atuação pífia e insossa durante os Jogos Olímpicos, conquistando apenas a já manjada medalha de bronze para o futebol nacional (convenhamos! medalha de bronze em futebol pra brasileiro é a mesma coisa que chupar um picolé ainda com a embalagem!), como também envolveu-se num quiprocó com uma bela jogadora da seleção feminina norueguesa, numa paquera mal feita que acabou rendendo também risadas nos jornais, sobre um suposto pedido de casamento mal sucedido, entre um assédio e outro nos corredores da Vila Olímpica. Pô! O cara pode ser feio de doer e dentuço, mas o problema do repúdio da gata escandinava não foi a feiúra do rapaz, mas sim o flerte mal feito. Ronaldinho Gaúcho contribuiu para afetar a hombridade e ao autoestima do macho brasileiro, quando fez com que ficássemos com a fama de paqueradores incompetentes. Já não bastava não termos ganho a medalha de ouro nas Olimpíadas, dando-a de mão beijada pros argentinos, ainda ficamos com fama de não saber "dar em cima" de mulher bonita estrangeira.

Agora, para completar a salada de escândalos sexuais, atônito fiquei ao saber que o nosso eterno atacante Robinho, o gênio das pernas pedalantes, também caiu na gandaia e numa fria literalmente, ao tentar se dar bem numa boate britânica, na chuvosa e gélida noite inglesa.
Segundo informações da polícia da Inglaterra, Robinho foi preso e acusado, no dia 16 de janeiro, de ter estuprado uma estudante universitária britânica de 18 anos, durante uma noitada. A acusação é muito séria, seríssima, até porque sabemos do abalo que provocam tais acusações no mundo do esporte. Quem não se lembra do calvário de Mike Tison na década passada, jurando de pé junto que não tinha estuprado a modelo Desiré Washington, ao entrar em seu quarto de hotel, acabando por ter que cumprir uma dolorosa pena de 5 anos num presídio norte-americano? É, com isso não se brinca, e acredito que nossos jogadores ao se meterem nessas enrascadas, envolvem-se não por maldade, acredito, mas pela completa, absurda e impressionante ingenuidade.

Acredito que a fama por vezes pode tornar ingênuas as pessoas. A ilusão do ser intocável se desfaz no momento em que, no mundo dos vivos são cobradas as responsabilidades. Em reportagem interessante na Revista Galileu do mês passado, li entre outras coisas um estudo científico sobre a burrice. Isso mesmo, sobre a impressionante capacidade humana de dar mancada justamente nas ocasiões mais improváveis. Entre um dos motivos estaria a teoria de que o poder emburrece. Sim! O poder. Seja ele na sua dimensão política, econômica ou midiática, o poder acaba por afetar as decisões de seu detentor, acabando ele por tomar atitudes consideradas por muitos como absurdas ou sem pé nem cabeça. No caso das celebridades, e, em especial, aquelas do mundo do esporte, a ilusão de que são super-heróis, tais quais um sobrehumano Michael Phelps, capaz de ultrapassar os limites físicos de muitas pessoas (o que leva a trazer fama e fortuna), acaba por levar essas pessoas a na vida cotidiana a adotar determinadas práticas que não condizem com as de pessoas sensatas ou minimamente racionais.

No caso de Robinho muito ainda não foi explicado, o que não deve induzir a pré-julgamentos, mas é tão somente lamentável ver que nossos craques lá fora, acabam por voltar da Europa com o filme queimado. Como que numa lavagem de roupa suja e reputações, nos habituamos ao ouvir falar das confusões de Adriano com a Inter de Milão e seus excessos alcóolicos, o desligamento melancólico de Ronaldo do Milan após o escândalo com os travestis cariocas, e agora a inadaptação de Robinho ao Manchester City. Parece que os jogadores brasileiros estão sendo vistos agora no exterior não mais como criativos gênios da bola, autênticos craques consagrados no futebol mundial, mas sim como uma corja de desordeiros ou desajustados, moleques imaturos ou que já deveriam ter alcançado a maturidade, ou como "animais" tais quais um Edmundo que depois de tantos processos, e tantas escaramuças na vida privada, acabou também por se despedir melancolicamente de um Vasco na segunda divisão.

Pode ser até que Robinho seja inocente dessas graves acusações. Queira Deus que sim! Porém, o que pode se julgar aqui não é a acusação em si, mas sim a capacidade humana desses jogadores de entrarem em fria. Numa crescente espiral de escandâlos resta saber, afinal: o que está acontecendo com nossos jogadores?

Um outro tema que merece comentário, mediante o que ocorreu com Robinho, é assunto já tratado em muitas mesas-redondas de futebol hoje em dia, aqui no Brasil. Trata-se de qual cultura futebolística está sendo formada hoje em dia na formação moral de nossos craques. Explico fazendo comparações nas minhas conexões com astros da bola do passado, tão ou bem mais encrencados como Robinho ou Ronaldinho Gaúcho, tais quais um Garrincha ou um Heleno. Poderia falar de outros casos de atletas que souberam envelhecer com dignidade, sem a obviedade de Pelé, tais como Zico ou Paulo Roberto Falcão. Ou daqueles que após visitarem o fundo do poço, depois de passarem pelo mundo das drogas se reerguem, numa comovente redenção, como Marinho ou Casagrande.

Em todos esses atletas o futebol esteve presente não apenas como meio de vida, mas como uma filosofia da pelota que norteou suas escolhas e os transformou em referenciais para toda uma juventude. Além dos meus heróis de gibi, os meus heróis na vida (além do meu pai) eram aqueles jogadores estampados em álbuns de figurinhas que colecionávamos na infância, nas embalagens de chicletes ou tampinhas de refrigerantes. Explico para os que não gostam de futebol, que parte da mítica que o futebol introduz no torcedor é esse imaginário épico, típico das estórias de Julio Verne ou Walter Scott. Os heróis da bola eram não apenas um plantel de jogadores, que se reunia os 90 minutos para disputar uma partida entre traves num vasto gramado. Podem me chamar de piegas, mas para mim naquela época de criança, os craques eram aquelas figuras míticas, eram bravos, destemidos, guerreiros ostentando, entre o número da camiseta o brasão de seu time, a disposição de vencer a partida, nem que fosse nos últimos derradeiros e emocionantes minutos. Eram seres de carne e osso, porém também referenciais, o irmão mais velho que você queria ter, para as mulheres o noivo amado que saía em batalha e voltava exausto e com as pernas sangrando para os braços da amada, ou simbolizavam (freudianamente falando) a figura de meu pai ainda jovem, chamando-me para uma partida solitária no campo atrás de casa, para repetirmos em nossa fábula juvenil, as façanhas dos jogadores que vínhamos na TV, entoando com orgulho o hino da seleção canarinho.

Hoje em dia parece que tudo mudou. A subcultura do futebol assimilou os piores traços da cultura consumista e globalizada transformando os jogadores em precoces homens de negócio que negociam através de empresários seus próprios passos ( e passes). Parece não haver mais lugar para ideologias no futebol ou a manutenção de valores caros ao tradiconal esporte bretão, tais como: lealdade, fidelidade ou paixão a um time ou seleção. Como mercadores do mundo globalizado que negociam sua própria mão de obra, os jogadores hoje em dia só pensam em engordar suas contas bancárias, meio que justamente, dizem, para ajudarem suas famílias. É verdade que ainda hoje a grande maioria dos jogadores de futebol profissional vem de famílias pobres ou de classe média das periferias das grandes cidades (salvo raras exceções como o caso do jogador Kaká). Porém, eis o diferencial, os valores cultivados no tempo de jogadores também tidos como desajustados como Garrincha, são bem diferentes hoje dos alcançados por um Adriano ou um Robinho.

Garrincha era um típico jogador de tempos passados, produto de sua zeitgeist, ou seja, era um representante do espírito de seu tempo. Naquela época, nos idos dos anos cinquenta, num Brasil ainda traumatizado pela perda do Mundial de 50 nas mãos da seleção celeste uruguaia, o futebol ainda era uma modalidade esportiva para desocupados, pretos preguiçosos pobres, explorados por seus clubes, que, quando muito, podiam comprar com muito custo um carro usado e manter uma casa para suas famílias, pois o esporte não tinha o grau de profissionalismo, propaganda e sofisticação que tem hoje. Ver a seleção canarinho então fazer bonito sendo a primeira sul-americana a conquistar um mundial, derrotando os favoritíssimos suecos na Copa de 58, sinalizou para um período novo na história do futebol brasileiro, mas também para uma redimensão do papel do jogador, sua relação com os clubes e com o público. Com o passar do tempo, os jogadores da seleção brasileira passaram a ser reconhecidos como atletas da grandeza a que eles merecidamente possuíam. Porém, demorou mais de duas décadas, até que craques genuínos como um Paulo Roberto Falcão pudessem fazer sucesso no futebol profissional estrangeiro, gerenciar sua própria carreira e poder constituir verdadeiras fortunas.

A meu ver esse é o marco diferenciador da postura moral do jogador de futebol bem sucedido, integrante da seleção brasileira hoje. Se, outrora, havia componentes sociais responsáveis por uma identificação moral do jogador com sua comunidade e sua pátria, a ponto dele naturalmente adotar uma conduta diligente quanto a sua preparação física e mental no desempenho das partidas. Hoje, com os avanços da medicina desportiva, o advento do merchandising futebolístico e a consequente transformação dos times em grandes empresas e corporações econômicas transnacionais, o jogador passou a ser visto apenas como uma engrenagem do sistema, com direito a tratamento vip: roupas caras, carros velozes, mansões nababescas, contratos milionários em clubes europeus, baladas em grandes festas, bebidas e mulheres, muitas mulheres!

Como um novo playboy do mundo globalizado, o jogador astro de futebol brasileiro afastou-se de vez de sua torcida, distanciou-se da comunidade. Agora, preparado desde cedo para galgar a glória num alpinismo social, não se cultiva mais na cultura futebolística a vitória através do sucesso de uma empreitada coletiva de 11 homens em campo, mas sim o simples êxito individual. Nossos jogadores ficaram mais individualistas sim, e nesse individualismo tornaram-se arrogantes, e nessa arrogância acharam que tinham muito poder, e com o poder vem os erros, com o poder vem a burrice. Pois como já dizia o saudoso tio Ben a Peter Parker:"grandes poderes trazem grandes responsabilidades". Pedala Robinho!

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