terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ERA BUSH: UMA RETROSPECTIVA

GOD BLESS AMERICA!! Saí Bush, entra Obama! Até aí uma saudável e histórica passagem do poder, onde o primeiro político da cor negra assume a presidência da nação mais poderosa do planeta. Porém, como se trata de um blog cujo tema são as conexões, naturalmente elas se tornam inevitáveis ao comparar Bush com seu principal ícone Ronald Reagan ou Obama ao maior expoente político de toda a história norte-americana, Abraham Lincoln. Afinal, no Brasil Lula já tentou se comparar a Vargas ou a JK, herdando do primeiro a pretensão de passar para a história como o estadista que mais passou tempo no poder (vide as especulações sobre o terceiro mandato), mas que teve o maior índice de aprovação da história das Américas num segundo mandato (mesmo com crises políticas domésticas de primeiro mandato, como o "mensalão" ou a avassaladora crise econômica mundial atual).
Bush herdou de Reagan a retórica conservadora e a fome neoliberal, contribuindo não como o Reagan para o fortalecimento de um modelo político, econômico e cultural, mas sim para seu colapso ou deterioração. Quem duvida é só ver no campo político do que resultou sua ideologia dos "Falcões" na intervenção militar no Afeganistão ou no Iraque, ou sua política pró-Israel no Oriente Médio, que só contribuiu para rasgar de vez o tratado de Oslo, firmado uma década antes, numa desiludida trégua entre israelenses e palestinos. A política interna não foi melhor no âmbito cultural, pois sua defesa do ensino do criacionismo nas escolas (revelando bem sua opção religiosa fundamentalista), muito ao sabor do desejo da direita conservadora norte-americana, ruiu diante dos baixos índices de escolaridade e da constante evasão escolar, sobretudo de negros e latinos, engrossando as ilícitas camadas da marginalidade, pululando gangues juvenis nos grandes centros como Los Angeles e Nova Iorque.
No campo econômico, está aí a crise para comprovar. Não deixa de ser tragicômico ver Allen Greenspan, ex todo-poderoso representante dos banqueiros internacionais, um dos mais dedicados militantes da causa neoliberal e defensor ardoroso do capitalismo, ter que explicar a crise numa sessão do Senado Americano, confessando que já beirando os oitenta anos de idade, tudo que ele acreditava acerca da miraculosa "mão invisível do mercado" havia ruído junto com as economias de milhões de mutuários de casa própria em solo yankee, justamente em função do modelo de gestão econômica desflexibilizada adotada por Bush.
Apesar de tudo Bush deu uma grande lição no marketing político ao se reeleger, demonstrando que, em tempos de medo e de avanço do terrorismo internacional, com a queda das Torres Gêmeas nos atentados de 2001, bastava bancar o cowboy, do alto de sua mesa na Casa Branca, falar com o sotaque texano do eleitorado branco e interiorano médio, além de falar fluentemente em espanhol para as comunidades latinas, para dizer que ele, o grande "W", estaria ali para ser o super-herói na causa da segurança nacional e na defesa do mundo contra os malvados terroritas, "inimigos da liberdade", componentes do Eixo do Mal, assim como na Califórnia o eleitorado já tinha dito sim ao eterno Exterminador do Futuro, Arnold Scharwezenneger. Sim! Porque americano adora televisão e cinema, e não deixa de adular seus ícones culturais, seja na sétima arte ou no esporte. E como um Chuck Norris da globalização, Bush pegou em armas e foi a luta, não se preocupando com os gastos trilionários em armamento e nos lucros exorbitantes da indústria armamentista, e nem no prejuízo moral de não ter conseguido capturar em toda sua gestão, o inimigo público número 1, o doutor Fu Manchu, o bicho-papão de todo americano médio comedor de cheese burguer: Osama Bin Laden. Sobrou pro Saddam! Resta lembrar que o discurso fanfarrão do político "daquilo roxo", que num messiassismo de ocasião promete botar pra quebrar nos homens maus, ainda ganha boa repercussão nas eleições aqui no Brasil em muitos grotões do país, especialmente no Nordeste brasileiro. Vide a eleição de uma bela e jovem deputada em Natal, no Rio Grande do Norte, herdeira do legado político e do canal de televisão de seu pai, falecido senador da República e amigo dos filhotes da ditadura, que com o mesmo discurso conservador de "mulher-macho", contrária a tudo o que está aí, logrou êxito em uma capital que ao mesmo tempo que ostenta as maiores rotas de turismo do país, também tristemente adorna seu histórico como uma das capitais com um dos maiores índices de prostituição infanto-juvenil, lavagem de dinheiro, super-faturamento de obras e tráfico de drogas.
Enquanto isso, no mundo, Bin Laden fazia pilhéria do fracasso americano em alguma gruta paquistanesa, dando entrevistas a torto e direito no canal Al-Jazeera, enquanto só restava a George W. seu pacotinho de Donuts entre um e outro pronunciamento oficial. Na época em que a esquerda norte-americana não conseguia viabilzar uma candidatura viável que vencesse o filho de Bush pai, o que se viu foi o fracasso eleitoral de 4 anos atrás, quando foi colocado um insosso John Carry pra se digladiar com Bush. Mas foi nessa mesma época que se gerava o mito Barack Obama. Sim! Porque Obama é, nos dizeres de Maquiavel, o político de virtu que soube aproveitar a hora da fortuna. Não se pode dizer que Obama foi uma cria de Bush face sua biografia, carisma e oratória inigualáveis, mas que o presidente que saiu agora ajudou, ajudou. Assim como Micarla de Souza em Natal, Obama soube esperar e fazer campanha subterraneamente nas instâncias do partido, fazendo crescer o seu nome através de vídeos no You Tube e de blogs na internet, assim como sua correlata potiguar soube utilizar muito bem do canal de TV que lhe pertencia, nos quatro anos anteriores ao pleito eleitoral natalense. Viva a sociedade virtual da era da globalização! "Enquanto isso, na sala de justiça", o conservadorismo dos lacaios de Bush os tornou míopes para uma forma de difusão de seus valores que não passasse por pronunciamentos oficiais ou pela difusão de seu modelo de ver a vida nas escolas públicas do país. Obama ganhou por que tem talento, sem dúvida, mas também porque soube aliar o discurso do novo, não só associado a sua condição de raça, como primeiro afro-descendente a ganhar uma eleição pra presidente em um país racista, mas também como cidadão do mundo, filho do mundo globalizado, que através de uma política de cotas criada quarenta anos atrás, a partir dos movimentos civis de negros como Luther King, era o representante de um povo já não mais identificado com aquele velho estereótipo do americano yankee branco, puritano, de chapéu de cowboy, comedor de fast-food e fã de baseball , mas sim de um povo miscigenado, globalizado ao extremo, inter-relacionado, inter-conectado a um mundo que, necessariamente, não representava as aspirações do american way of life.
Bush deixou para Obama um triste legado, isto sim, um horroroso abacaxi, difícil de descascar; porém Bush fica para a história não só como um dos piores presidentes norte-americanos, mas também aquele que por sua tosca biografia de um filhinho de papai que acabou chegando lá, ser um modelo inverso do nosso presidente Lula, mas que talvez em função disso mantenham uma curiosa simpatia mútua. Ambos são populistas, ambos falam a linguagem do povão, ambos falaram muitas asneiras durante suas gestões, mas a diferença é que um saí ovacionado pelo povo com altíssimos indíces de aprovação, enquanto que para o outro só lhe restam os tomates. Quem sabe se Bush tentasse a presidência em algum país sul-americano, a realidade não teria sido outra?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque aqui seu comentário:

Gates e Jobs

Gates e Jobs
Os dois top guns da informática num papo para o cafézinho

GAZA

GAZA
Até quando teremos que ver isso?