quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Enquanto isso em Caracas!

Saiu na Folha de São Paulo que Hugo Chavez pretende copiar seu ídolo Fidel e também virar colunista de jornal. O presidente venezuelano alegou que pretendia escrever uma série de colunas semanais, sobre temas que remetem a sua tão autoproclamada revolução bolivariana! Para se ter uma ideia, pasmem, o primeiro texto das "Linhas Gerais de Chavez" trata de sua vivência como jogador de beisebol! É, acho que o líder venezuelano vai ter que dar muitas tacadas pra conseguir ganhar credibilidade junto as Nações Unidas. Quanto a copiar Fidel, deve ser salientado que o mitológico líder cubano encontra-se com o pé na cova, e o exercício literário, diga-se de passagem, nunca foi o seu forte. Que o digam as centenas de intelectuais e escritores postos na cadeia por Fidel, por escreverem alguma linha considerada "contra-revolucionária" ou mesmo simpática aos Estados Unidos. Não que eu seja um aguerrido anticomunista ou que antipatize com o camarada Fidel. Afinal de contas, durante anos fui um grande entusiasta da Revolução Cubana, e agora em seus 50 anos de aniversário, acho justo a história rememorar o importante fato de um punhado de guerrilheiros barbudos ter conseguido "fazer o diabo" na Sierra Maestra e ter deposto um ditador típico de uma república de bananas.
O problema é que Cuba, e corre-se o risco também a Venezuela, ainda não se ajustou a um fluxo para mim inevitável chamado abertura política e econômica, ditada pela globalização. Não se trata de arriar as calças para o capitalismo yankee, mas sim de reconhecer que os mitos envelhecem ( a exemplo de Fidel) e as ideologias também. O mundo de Karl Marx no apogeu do capitalismo industrial na Europa do século XIX, certamente não é o mesmo mundo de hoje, assim como o período histórico que proporcionou a vitória a Fidel e seus camaradas, não é o mesmo acalentado por Chavez, em seus demagógicos discursos de novo xodó da esquerda latino-americana.
Não faço aqui uma crítica desconfiada, oportunista e irresponsável, tal qual a que é feita pelos articulistas da Veja; porém não deixo de notar que a condescendência com algumas cavilações do discurso bolivariano de Chavez e a satanização da classe média que é feita em seu governo, não ganham mais respaldo de boa parte da esquerda brasileira, seja ela a esquerda institucionalizada do governo Lula, ou a outsider capitaneada por partidos como o PSOL ou o PSTU. Quando digo que Chavez passou do ponto, enfatizo necessariamente em minhas conexões, comparações com outros grandes líderes latino-americanos de vulto, como Salvador Allende, no Chile ou mesmo Lula, na atual realidade brasileira, por sua predisposição de, mesmo com os erros, estimular a boa convivência democrática dos contrários. Chavez copia em Fidel o militarismo, seja pelo apego ao uso de farda ou ao discurso xenófobo e messiânico da luta de classes, mas não tem um pingo do carisma e do charme guerrilheiro de quem levou bala escapando dos helicópteros de Fulgêncio Batista nos tempos da revolução. Além disso, como negociador Chavez se revelou mais um bom vendedor de sabonetes do que um autêntico mediador de conflitos ao se ingerir na negociação de reféns entre as FARC e o governo colombiano.
Agora, odiado pela oposição, questionado pela ONU e hostilizado pela mídia internacional, só resta a Chavez a pirueta de conseguir um terceiro mandato, nem que seja pela força das baionetas ( o que, diga-se de passagem, não é grande novidade na história política da Venezuela), pois sua tentativa de saída a la Fidel não obteve muito resultado ao tentar controlar o Congresso e calar a oposição, vide o resultado do último plebiscito. Caracas ainda não é ambiente para el paredon, ao menos ainda não é, e tomara que não seja; porém Chavez já demonstrou que juízo, ao menos de não colocar a mão na caneta, ele não tem!
Bem! Quanto as colunas de jornal que o presidente venezuelano pretende redigir, resta saber se ele vai escrever também sobre qual sua predileção de cuecas, visto a densidade, profundidade e a abrangência de conteúdo de suas missivas já apresentadas no primeiro texto anunciado. Haja saco, leitores venezuelanos!

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